São Paulo de Crespo compete com pernas, coração e não desiste até sair da fila
Time é competitivo por 180 minutos e coroa título com intensidade, concentração e dose de sorte
ra 29 de abril quando Hernán Crespo chegou aos vestiários do Morumbi e se emocionou. Uma frase repetida pelo treinador tinha acabado de ser eternizada pelo São Paulo em uma das paredes do estádio. Aquela citação se tornaria o grande lema tricolor na conquista do Campeonato Paulista, simbolizado nos três grandes personagens da tarde do último domingo.
A frase “donde no llegan las pernas, va a llegar el corazon (aonde não chegam as pernas, vai chegar o coração)” saiu da parede para ser incorporada no trabalho da comissão técnica. A simples citação com ares filosóficos virou um mantra, um guia para uma equipe ferida por oito anos e cinco meses de frustrações e ausência de taças.
O São Paulo campeão paulista de 2021 é competitivo, não desiste e chegou à glória com as pernas de Luan e o coração de Luciano, autores dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, responsável por findar o jejum.
As pernas refletem a dedicação de Luan. Até Abel Ferreira, no duelo de ida, se rendeu ao incansável meio-campista. Contra o Palmeiras, no duelo mais decisivo da carreira, toda a dedicação acabou recompensada com uma dose de sorte.
O chute de longe desviou em Felipe Melo e abriu caminho para a vitória.
O coração de Luciano reapareceu no momento da glória. O vai e vem de lesões atrapalhou, gerou questionamento. A ausência no confronto da ida colocou em dúvida a participação na grande final, ainda mais em um início de ano tão complicado para o atacante no lado pessoal.
Luciano conviveu com perdas de pessoas queridas e lesões desde o início da temporada 2021. O contexto favorável de um 2020 goleador se perdera até este domingo, talvez até sem a recuperação plena para atuar em alto nível os 90 minutos de uma decisão.
Bastaram 49 para o camisa 11 fechar a vitória e entrar para a história.
Essa mistura de pernas e coração eternizou um grupo de jogadores que conviveu nos últimos anos com uma pressão gigante, que transformou o Paulistão de 2021 em uma “Copa do Mundo”, relegando até a Copa Libertadores a um segundo plano, em estratégia sustentada por comissão técnica e diretoria nas últimas semanas.
Um período de frustrações acaba enterrado por uma equipe competitiva e que não desistiu, que correu desde a estreia lá em 28 de fevereiro até por volta das 18h deste domingo.
Luan, Luciano, Crespo e companhia traçaram um plano, trabalharam intensamente (até em dias de jogos) e entraram para a história como os nomes responsáveis pela glória no estadual.
— Lembro da primeira reunião com o Muricy, o Rui Costa, o Belmonte, com o Casares, quando me deram a possibilidade, que acreditaram que essa comissão técnica era com as pessoas justas para trabalhar aqui. Sempre falei que seria uma grande honra fazer parte do São Paulo, prometi competitividade, agressividade, o resto foi consequência — assegurou Crespo.
Pouco mais de três meses depois, a consequência veio em forma de consagração. O argentino cumpriu a promessa para a diretoria: uma equipe agressiva, propositiva e competitiva (seja com titulares ou reservas).
As pernas e o coração desta vez chegaram juntos até o último minuto do Campeonato Paulista, materializando em resultado uma pintura que poderia até sugerir uma idolatria precoce sobre Hernán Crespo.
Idolatria, essa, até justificável a partir desta segunda-feira; afinal, o argentino guiou o São Paulo para o fim do jejum de títulos. A última conquista, antes da atual, tinha sido a Sul-Americana de 2012.