Proteção e estilo na quarentena: máscara vira tendência de moda

Inicialmente um hábito visto como coisa do outro lado do planeta, uso do acessório obrigatório desperta o lado criativo de empreendedores

Em um passeio pelas redes sociais, pode-se rapidamente perceber que um dos temas mais abordados por diferentes pessoas é o uso da máscara para segurança da saúde individual e coletiva durante esse período a pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Se nos países asiáticos, a máscara já é de uso recorrente, por questões culturais ou em detrimento de medidas de saúde pública, no ocidente ela ainda é algo novo, e todos nós estamos nos adaptando ao uso desse acessório no nosso dia a dia.

As grandes marcas do mundo da moda já saíram em busca desse nicho e estão criando tendências no mercado do mundo fashion. Mas uma das grandes mudanças pós-Covid-19 é o público valorizar os negócios locais, um apelo feito pelas lideranças e que vem surtindo efeito. E muitos empreendedoras da Capital catarinense viram na confecção de máscaras de tecido uma oportunidade de despontar nesse novo cenário.

“Um vírus virou o mundo de ponta-cabeça, e as pessoas criativas pensaram em opções diferenciadas para algo que era até então um elemento de proteção descartável. Marcas famosas correram para criar máscaras de tecido com estilo. Se é para se proteger, que seja no melhor estilo. Mas se não der para ter uma assim, use sua criatividade e faça uma máscara do seu jeito. O que vale é a segurança da sua saúde ao sair de casa”, destaca Valentina Becker, 48 anos, analista de cores.

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A catarinense estuda o subtom da pele de cada pessoa e com isso determina as cores que mais favorecem um dado biótipo. “Como a maioria das pessoas desconhece sua cartela de cores, o ideal seria usar cores neutras, como cinza, off-white e azul-marinho”, sugere a especialista.

Produção diferenciada atrai clientela que procura novos modelos

Flávia Ballmann Machado, de 46 anos, trabalha há 30 com costura, mas, devido ao isolamento social, pela primeira vez suas clientes ficaram sem aparecer.

Até que há duas semanas atrás, Flávia resolveu unir-se à uma amiga para produzir máscaras que serão entregues junto com cestas básicas para as comunidades mais carentes da região do bairro Ipiranga, em São José, município da Grande Florianópolis. Terminada essa produção, Flávia começou a costurar e a postar diferentes estampas de máscaras, e as conhecidas voltaram a solicitar seus serviços.


Máscara feita pela costureira Flávia Ballmann Machado

“As clientes gostam da minha costura e já estão pedindo outros modelos, como a faixa com a máscara do mesmo tecido, que, além do conforto, será uma tendência da moda do inverno”, garante. Outro modelo que está sendo solicitado é a touca com a máscara para o uso dos profissionais das cozinhas dos restaurantes. Segundo Flávia, todos esses pedidos estão sendo de uma boa ajuda financeira no orçamento.

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Máscara acoplada com touca tornou-se uma das criações preferidas das cozinheiras

 

Mãe e filha unem estética e empreendedorismo

A filha, Bárbara Palermo Szücs, 41 anos, arquiteta de formação, conta que sempre gostou de trabalhos manuais e que nos últimos anos se dedica à produção de peças de crochê e ao ensino de aulas da técnica. A mãe, Carolina Palermo, 66, é professora aposentada do curso de arquitetura e urbanismo da UFSC e sempre teve a costura como um hobby.

“Apesar das notícias e das recomendações contrárias no começo do isolamento social, eu e minha mãe sentimos a necessidade de fazer as nossas próprias máscaras e, portanto, iniciamos a pesquisa de modelos, moldes e requisitos para melhor proteção”, explica Bárbara, mãe de Catarina, 13 anos e de Isabela, de 9, que também serviram de modelo para as máscaras infantis.


Arquiteta Bárbara e a mãe, Carolina, professora aposentada, se unem na produção das máscaras defendendo que a proteção não precisa esquecer o bom gosto

 

As arquitetas optaram pela produção de um modelo mais elaborado de máscara, com duplo tecido e abertura para filtro, garantindo assim mais segurança. Esse modelo demanda mais atenção aos detalhes e acabamentos.

“Pesquisamos na internet e adequamos as máscaras produzidas às necessidades e aos costumes do brasileiro, buscando praticidade, segurança e rapidez na colocação, retirada e higienização da peça após o uso. Tudo foi pensado para o conforto do usuário”, afirma Carolina.

A única divergência entre mãe e filha foi quanto às cores e estampas. Enquanto Bárbara tende para composições mais modernas, a mãe prefere as mais clássicas. Até o momento, elas já confeccionaram cerca de 600 peças, e o perfil dos compradores é bem diverso.

São homens e mulheres solicitando peças para a família e também para o seu negócio. Segundo elas, com a data de reabertura do comércio e prevendo a volta às aulas das crianças em breve, a demanda aumentou. “Costurar é antes de tudo uma atividade prazerosa e mesmo terapêutica, e tem nos ajudado muito a passar pela quarentena. E, pelo visto, continuará a nos auxiliar no controle do estresse, algo com que o brasileiro deve rapidamente aprender a lidar”, ressalta a professora aposentada.


Bárbara com as filhas, Catarina e Isabela, que são uma espécie de consultoras para a mãe e a avó, dando dicas da preferência do público infantojuvenil

 

Estilista lança moda das máscaras no mercado de alta-costura

No início de abril, o ateliê da estilista Camila Fraga lançou um projeto nas redes sociais chamado “Máscara para todos”, o qual tinha como objetivo realizar a doação de mil unidades de máscaras. Entretanto, logo em seguida, Camila foi convidada por sua amiga Tatiane Kindermann Cabral para fazer parte do projeto @desafiomascaraparatodos, que envolve empresários de diferentes setores, entre eles Mariana Pelegrini Joias, que arrecadou 600 metros de tecidos para a produção de dez mil máscaras que serão adotadas por projetos sociais como o Cidades Invisíveis, algumas comunidades carentes e também asilos, como, por exemplo, O Lar de Zuma.


Estilista Camila Fraga – Foto: Divulgação/ND
De acordo com a estilista, as máscaras para venda começaram como um hobby, uma forma de ela expressar o seu carinho pelas clientes da marca. “O diferencial das máscaras produzidas no ateliê são as estampas, as cores e o estilo”, ressalta Camila.

Ela enfatiza que “o tecido, a modelagem e o carinho são os mesmos tanto daquelas que estão sendo vendidas como as que serão doadas”. Para a estilista, seguramente as máscaras se tornarão um acessório do universo da moda.

Camila acredita na conscientização da população, confiante de que, mesmo após a pandemia, todos deverão cuidar do próximo e se proteger para que as doenças infectocontagiosas tenham menor circulação e assim seja mais fácil combatê-las. Agora fica a pergunta: será que a estilista fará vestidos de alta-costura combinando com as máscaras?


Vestido de festa ganha um acessório do mesmo tecido: máscaras chegaram para ficar?

Profissionais de moda se unem em apelo coletivo

“Usem máscara”. Com este apelo, dezenas de profissionais de moda se uniram num movimento coletivo para mostrar a importância do uso do acessório. Juntos, coletivamente, eles postaram na terça-feira à noite selfies usando suas máscaras com a hashtag #todxsdemascara, procurando influenciar o maior número possível de pessoas a sair de casa protegido.

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