Produtores devem ter margens menores para próxima safra
Campo Futuro aponta que as margens de lucro obtidos pelos produtores na safra 2020/2021 foram históricas, mas não devem ser mantidas para a próxima. A consolidação dos dados coletados pelos painéis do programa Campo Futuro aponta que as margens de lucro obtidos pelos produtores na safra 2020/2021 foram históricas, mas não devem ser mantidas para a próxima. O levantamento é feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e realiza painéis de levantamento de custos de produção de grãos no Rio Grande do Sul. O trabalho consiste na análise das informações obtidas a partir da realidade produtiva apresentada pelos produtores. Os painéis aconteceram em Bagé, Camaquã, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, e Uruguaiana para as culturas de soja, milho, trigo e arroz. O economista da Farsul, Ruy Silveira Neto, integra a equipe técnica que realiza o estudo. “A partir dos resultados dos painéis vimos que os custos aumentaram bem mais que a inflação oficial do país. Porém, a trajetória do aumento de preços e a recuperação da produtividade frente a seca do ano passado fez com que a receita bruta fosse alta e as margens fossem bem largas para safra 2020/2021. Atualmente, nós vemos que os custos seguem a trajetória de aumento, principalmente concentrada no ano de 2021, enquanto os preços já apresentam uma tendência de estabilidade. O que pode ocasionar, no futuro, que o custo comece a convergir para perto da receita e as margens fiquem cada vez mais estreitas até a próxima safra de 2022”, avalia. No caso da soja, principal cultura no estado, os custos relativos aos insumos tiveram uma redução na comparação entre as safras 2019/2020 e 2020/2021. Mesmo assim, as sementes registraram um aumento de 38%. Conforme Ruy Silveira Neto, isso aconteceu porque os valores de sementes, especialmente as Intactas, estão relacionados com a taxa cambial. Outros itens também tiveram forte alta como Operação Mecânica (20%); Juros de Capital de Giro (14%); Custo Operacional Total, que também considera a depreciação de equipamentos, por exemplo (13%); Custo Geral, valores relativos à administração da propriedade, contabilidade, energia elétrica, alimentação de funcionários (44%); e Frete (53%). , A lavoura sojícola, no total, ficou 13% mais cara na relação entre as duas safras mais recentes. Porém, os custos seguem acelerando. Se na última, para cobrir todos os custos, o saco da soja deveria ser comercializado por, no mínimo R$ 67,00, atualmente esse valor saltou para R$ 85,00. A safra de milho recuperou a perda da produtividade na comparação com 2019/2020, mas ainda está distante do potencial. “Mesmo não tendo uma produtividade excepcional, é a cultura que melhor responde em relação à margem bruta”, comenta Ruy Silveira. A principal razão está na alta de 72% no preço do grão. Entretanto, os custos de produção mantêm o movimento de elevação. Desse modo, o valor mínimo do saco para cobrir os custos que era de R$ 34,87 na última safra, teria que passar para R$ 44,47 atualmente. O trigo também vem de forte aumento no preço, atingindo 90% na safra 2020/2021. Os custos também tiveram elevação. Nos insumos, sementes (35%) e fungicidas (38%) puxaram a alta, junto com Custo Geral (49%). Mesmo assim, Ruy Silveira destaca o bom momento vivido na última safra e a projeção para a atual. “Foi um resultado histórico, o produtor pagou todos os custos e ainda teve margem bruta confortável. Foi o melhor resultado da última década. A realidade já mudou totalmente. Para empatar os custos, o produtor hoje precisava vender o saco a R$ 70,00, contra R$ 45,00 da safra passada”, informa. O arroz passa por situação semelhante ao trigo. “Enquanto ainda há espaço para lucratividade para soja e milho, para arroz e trigo não tanto”, avalia o economista. A safra 2019/2020 já havia registrado bons resultados, mas a 2020/2021 foi bem superior. “Tivemos recorde de produtividade atingindo média de 206 sc/ha no nosso levantamento. Os preços também tiveram mesma trajetória dos demais grãos, garantindo um aumento de receita de 52%”, explica. Os custos também foram reajustados. Os Insumos aumentaram 17%, especialmente Sementes (29%) e Herbicidas (34%); Operação Mecânica, 23%; Custos de Colheita, 19%; Frete, 10%; Custo Geral 29%. O Custo Operacional Total (COT) do arroz foi o que teve maior alta, com 21%. Os valores de Irrigação cresceram 32% fazendo com que os seus custos se aproximem do valor total dos insumos em valores absolutos. “O grande problema do arroz é que ele mudou do vinho para a água. A tendência é que as margens boas não se repitam. Para cobrir os custos, o saco que antes deveria ser vendido por R$ 44,31, agora não pode ficar abaixo de R$ 65,87”, analisa. O projeto Campo Futuro também realizou o levantamento dos custos de pecuária de leite e de corte. Os dados já foram compilados e estão em fase final. O último levantamento de fruticultura havia acontecido em 2017.