Mensagens obtidas pelo MP indicam novos pagamentos de apostadores a jogadores de GO, MG, MT e RS

Investigação pode se transformar em operação nacional após Ministério Público encontrar possíveis tentativas de manipulação de resultados em partidas de 2023

A investigação do Ministério Público de Goiás, que apura denúncias de manipulação de resultados na Série B do Campeonato Brasileiro, pode se desdobrar numa operação de abrangência nacional, com ações em outros estados. Mensagens obtidas pelo MP apontam para pagamentos feitos já em 2023 a jogadores de quatro estados.

O objeto inicial da investigação é uma denúncia feita pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, de que o meio-campista Romário foi cooptado por apostadores para cometer um pênalti no primeiro tempo do jogo do time contra o Sport, pela rodada final da Série B de 2022.

Mas ao longo da apuração já ficou claro que há jogadores de outros clubes potencialmente envolvidos – Joseph, zagueiro do Tombense, e Mateusunho, na época no Sampaio Corrêa e hoje no Cuiabá foram formalmente citados pelo MP. Gabriel Domingos, também do Vila, está sendo investigado por ter emprestado a conta bancária para Romário receber o dinheiro.

Ao cumprirem um mandado de busca e apreensão, os investigadores encontraram no telefone celular de um dos alvos da operação (um aliciador de jogadores) uma mensagem que indicava pagamentos feitos já em 2023 para atletas que atuam nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás.

O empresário Bruno Lopez de Moura foi preso em São Paulo por participar do esquema de manipulação. De acordo com o MP, ele era o responsável por fazer o contato com os jogadores e realizar os pagamentos.

O Ministério Público ainda não têm detalhes de quais jogadores e quais jogos poderiam ter sido corrompidos pelos apostadores. O foco inicial da operação – chamada de “Penalidade Máxima” – é Romário, que deixou o Vila no ano passado e em 2023 já passou pelo Goiânia.

Na mensagem encontrada no celular de um dos alvos da operação, três clubes são nominalmente citados: São Luiz-RS, Novo Hamburgo-RS e Villa Nova-MG. O MP, porém, não considera que clubes e dirigentes sejam suspeitos de integrarem o esquema.

São Luiz:

“O Esporte Clube São Luiz de Ijuí vem a público manifestar-se sobre as matérias trazidas por veículos de informação acerca da operação “Penalidade Máxima” deflagrada pelo Ministério Público de Goiás/MP-GO. O Clube recebeu com surpresa a informação e já está em contato e à disposição das autoridades competentes, bem como aguarda a continuidade das investigações. Ressaltamos também que o Clube não compactua com as atitudes e reforça seu comprometimento com a ética, moral e profissionalismo”.

Novo Hamburgo:

“O Esporte Clube Novo Hamburgo […] tomou conhecimento de uma operação chamada “Penalidade Máxima”, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) no dia 14 de fevereiro de 2023, através da imprensa local. O clube solicitou uma reunião com a Federação Gaúcha de Futebol, o Ministério Público e a Autoridade Policial para obter maiores informações, bem como para que possa adotar todas as medidas necessárias para a proteção do clube contra eventuais atos criminosos e para que possa colaborar nas investigações e identificação de todos os envolvidos. O Esporte Clube Novo Hamburgo repudia todo e qualquer ato criminoso contra a prática desportiva e contra a sociedade, agindo sempre com transparência perante sua torcida e toda a comunidade”.

O presidente do Villa Nova-MG, Bruno Sarti, enviou ontem a seguinte mensagem:

– Realmente tomamos ciência desta notícias que circulou nas mídias do Brasil. Acredito que todos estão tentando entender e se inteirar dos fatos. Pelo que o clube acompanhou não existe um apontamento enfático. Há uma citação. Estamos atentos procurando obter mais detalhes mas por enquanto nada nos leva a uma conclusão.

Uma vez finalizada essa fase, é provável que outros alvos sejam incluídos na operação, por meio de cooperação com o Ministério Público e a Polícia Civil de outros estados.

Clubes defendem jogadores citados

Entre os jogadores investigados, Mateusinho e Joseph de fato cometeram as penalidades, em jogos contra Criciúma e Londrina, respectivamente, mas Romário não foi relacionado para o jogo contra o Sport, o que desencadeou a crise que levou à descoberta do esquema.

Romário teria recebido R$ 10 mil de adiantamento, mas como ficou fora do jogo, não pôde cumprir o que supostamente prometeu aos apostadores (e que lhe renderia mais R$ 140 mil). Por isso, pediu para companheiros de time cometerem um pênalti no primeiro tempo do jogo.

Ninguém topou, o assunto vazou, e o presidente do Vila Nova (ele próprio um Policial Militar) entrou em cena, investigou o caso por conta própria, arrumou uma confissão do aliciador por Whatsapp e entregou as provas que colheu ao Ministério Público.

Dirigentes do Sampaio Corrêa e do Tombense ouvidos pelo ge se disseram surpresos com as acusações sobre seus jogadores.

– O Joseph sempre pareceu um rapaz correto. Nós o afastamos do time, até para preservá-lo em relação à torcida, que poderia pegar no pé dele em algum jogo, e agora vamos esperar ele se defender e provar sua inocência. Se ficar comprovada sua participação, que seja julgado e punido – afirmou o presidente do Tombense, Lane Gaviole.

O vice-presidente do Sampaio Corrêa, Perez Paz, se declarou “muito surpreso” com a acusação sobre Mateusinho.

– Foi um jogador de destaque nosso, vários clubes da Série A se interessaram por ele, tanto que o vendemos para o Cuiabá. Nunca notamos nada estranho no comportamento dele. Seria uma surpresa muito grande se isso for comprovado – declarou o dirigente.

Diversos presidentes de clubes da Série B estiveram ontem na sede da CBF para o Conselho Técnico da edição de 2023 da competição. Nenhum deles afirmou que pretende pedir algum tipo de revisão de resultados dos jogos que supostamente foram manipulados para fabricação de resultados. É unânime a opinião de que se trata de “caso isolado” e que não há motivo para por em dúvida a lisura da edição de 2022 da Série B.

Casas de aposta sem culpa

Segundo o ge apurou, as apostas suspeitas eram feitas em diversos sites. Hoje esse tipo de jogo já é legal no Brasil, mas ainda carece de regulamentação. A investigação não foca nessas casas de aposta por entender que elas só têm a perder com o esquema: os envolvidos apostavam altas quantidades sabendo que iriam ganhar, causando prejuízo para elas.

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