“Meta é ampliar escolas de tempo integral e recuperar prejuízos no aprendizado”
om vasta experiência no setor, o professor Hélio Queiroz Dhaer assumiu o comando da Secretaria Estadual de Educação com a missão de levar ensino de qualidade para os 192 mil alunos da Rede Estadual de Ensino, em 348 escolas. Um dos principais desafios é ampliar as escolas em tempo integral, assim como promover a universalização do modelo, ou seja, ter ao menos uma unidade neste sistema nas 79 cidades do Estado.
Em entrevista ao Portal do Governo do Estado, o novo secretário ainda apontou a necessidade de “recuperar os prejuízos” na aprendizagem dos alunos em função do período de pandemia. Outro foco é utilizar as ferramentas digitais e as novas tecnologias para tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas. Ele também garantiu que vai existir a valorização dos profissionais de Educação.
Hélio Dhaer é graduado em Geografia, trabalhou como professor da rede pública ensino e atuou em cargos importantes dentro da Secretaria Estadual de Educação (SED), antes de assumir a pasta. Entre eles como superintendente de Orçamento e Finanças e superintendente de Políticas Educacionais. Confira a entrevista:
Quais são os principais desafios e metas a frente da Secretaria de Educação?
Nós temos grandes desafios, um deles é a continuidade da expansão das escolas em tempo integral, que estava nas propostas do governador Eduardo Riedel. Precisamos continuar esta ampliação pautados no orçamento do Estado, sempre observando as necessidades dos estudantes, este é um grande desafio. Este modelo tem custo, exige investimento, a gente vai cumprir, avançando bastante na rede. Outro foco é se aprofundar na recomposição da aprendizagem, tudo aquilo que a gente vem desenvolvendo para recuperar o que estudantes perderam na pandemia. Voltamos a normalidade por assim dizer em 2022, mas muita coisa ficou para trás. Eles perderam quase dois anos de contato direto com o professor, e sabemos que algo ficou prejudicado. Precisamos agora buscar o que ficou para trás, empoderar o professor para correr atrás. Não é porque acabou a pandemia que tudo se resolveu, pelo contrário, este é um grande desafio na nossa gestão. Respeitar o sacrifício que os professores fizeram neste período, assim como as escolas, para que agora possamos trabalhar ainda mais para recuperar o aprendizado destas crianças.
Além de ampliar as escolas em tempo integral também se busca a universalização?
Sim. A universalização é diferente de tornar 100% as escolas de tempo integral, universalizar o acesso é que todo município do Estado precisa ter ao menos uma escola neste modelo, e que todo estudante da rede estadual, se assim quiser, possa ter acesso a uma escola de tempo integral. Pois tenho que ter ainda escolas no período parcial, já que muitos estudantes e jovens querem trabalhar, ajudar na renda familiar, ou realizar outras atividades no outro período, então precisa se respeitar isto também. Nós vamos ampliar nossa rede (período integral) até chegar no patamar que qualquer estudante tenha acesso a este modelo. Vamos chegar lá, estamos próximos. Se tudo encaminhar bem até o ano que vem já estaremos em todos os municípios do Estado. Temos metas de chegar a 65% das escolas em tempo integral em breve, depois disto vamos trabalhar na qualidade desta rede. Outro grande desafio é fortalecer a parceria com os municípios, como por exemplo, continuar com um programa interessante que é o “MS Alfabetiza”, e ainda dar um passo a mais, para chegar na matemática. Nossa gestão entende que o estudante de escola pública é um só, seja da rede municipal ou estadual, para nós todos merecem atendimento e atenção do Governo do Estado. Teremos este foco de ajudar as escolas públicas municipais, ajudar as secretarias.
Estamos no período de matrículas. Qual os prazos e as orientações aos pais dos alunos?
Encerramos na última quarta-feira (04) o período de pré-matrículas, depois vamos para fase de designação, na sequência vem as correções e o período de matrículas. As vezes o pai não conseguiu a escola que queria, a gente vê se podemos atender a demanda, pois sempre eles colocam três opções. Este período é importante para as famílias acompanharem as divulgações, as listas, pois depois é preciso fazer a confirmação da matrícula, se não fizer, pode perder a vaga. A família precisa estar atenta para acompanhar o nosso cronograma.
Os materiais didáticos, uniformes já estarão disponíveis no início das aulas?
Os pais podem ficar tranquilos que serão mantidos tantos os materiais escolares, como os uniformes, assim como merenda que vai ser tudo providenciado, para que a Rede Estadual retorne em fevereiro com tudo isto nas mãos dos estudantes. Na verdade, esta semana muitas escolas já estão recebendo estes kits. Inclusive queremos que o governador faça a abertura do ano letivo em uma destas escolas, entregando kit para nossos estudantes. Também teremos inaugurações de várias escolas em fevereiro e março. Já temos 20 escolas para entregar (reformas) e mais 10 (obras em escolas) que já foram licitadas, então neste ano vamos entregar muitas obras na rede escolar.
A inclusão digital e a novas tecnologias faram parte do cotidiano das escolas estaduais?
A cara da gestão do nosso governador Eduardo Riedel vai a expansão digital e tecnológica, da sustentabilidade. Vem de encontro a tudo que nós esperamos para educação. Uma educação mais tecnológica, inteligente, no sentido de usar tudo disponível para o estudante, que já ganhou espaço durante a pandemia, quando precisamos usar estas ferramentas. O Governo também tem a questão da infovia, vamos usar fibra ótica em todas as nossas escolas, isto para nós será um passo imenso, trabalhar com internet de alta velocidade. Os estudantes gostam muito do conteúdo audiovisual, por isso precisamos explorar isto. Temos os laboratórios de robótica, de ciência, muita coisa legal para entregar aos nossos jovens. Um dos grandes problemas enfrentados pela educação no Brasil inclusive é a evasão escolar. Temos que usar estas novas ferramentas e mostrar aos jovens que a escola é atrativa, que dispõe de um professor preparado, bem municiado de instrumentos para desenvolver a aula dele, com computador novo, tablets à disposição, laboratórios móveis, para que a escola fique mais atrativa.
Então o uso das tecnologias, com aulas mais dinâmicas pode ser uma das estratégias para combater a evasão escolar?
A escola precisa fazer sentido para um estudante do Ensino Médio. Precisamos trabalhar para que este jovem de fato entenda que a escola é importante para ele. Tem a concorrência do mercado de trabalho, ele muitas vezes precisa ingressar no mercado para compor a renda da sua família. Por isso a ideia da nossa gestão é também trabalhar na qualificação profissional, integrada à educação básica. O estudante tendo acesso a qualificação ainda no ensino médio, tendo à disposição cursos técnicos, até para se preparar para as vagas de emprego. Inclusive no interior boa parte das nossas escolas em tempo integral vão fazer educação profissional. Isto não quer dizer que ele não vá ter acesso ao ensino superior, porque queremos que o estudante compreenda, que mesmo com o curso técnico, ele pode fazer uma faculdade naquela área. Trabalhar para cada vez menos para que se precise do EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Como hoje é oferecido os cursos técnicos e profissionalizantes na Rede Estadual?
Temos algumas escolas e uma rede de nove centros de educação profissional, em cidades como Campo Grande, Dourados, Naviraí, Chapadão do Sul, Camapuã, Aquidauana por exemplo. Vamos ampliar ainda mais esta rede, muito integrada a tudo que o Governo já vem fazendo, acompanhando por exemplo os investimentos no Estado. Se tem uma fábrica de celulose, tem que vir com a formação junto. As escolas que estão no interior em tempo integral têm a opção de oferecer e escolher este curso técnico. Vai ter muito diálogo com os diretores para ouvir e discutir estas metas de educação profissional.
Como o senhor pretende promover o contato e diálogo com os profissionais de educação?
Sou professor de carreira, ingressei na rede estadual em 1996, passei pelo município como diretor de escola, então todos estes anos dentro da escola facilita bastante neste contato com o professor. Nossa ideia é visitar e frequentar muito as escolas. Ir lá na ponta conversar com a merendeira, pessoal da limpeza, com o professor. Entender as demandas, porque cada escola é de um jeito. Não tem as mesmas soluções. Antes como superintendente (SED) já visitava bastante as escolas. Eu vim das escolas, inclusive até sinto falta deste ambiente, por isso vou frequentar e ouvir bastante. A Secretaria de Educação também estará aberta para todos, pois a pasta está aqui para servir as escolas, esta é nossa missão. As escolas precisam nos ver como um local que está aqui para servi-la e não o contrário, por isto estaremos bem próximos.
Qual será a política e planejamento específico para atender os administrativos da Educação?
Estamos construindo o plano de cargos e carreiras deles, fazendo a devida atualização. Nós precisamos ouvi-los, porque eles são tão importantes como os professores no processo educacional. Para termos uma escola boa, ela precisa estar limpa, ter uma merenda de qualidade, até para trabalhar a questão da evasão. A criança precisa se sentir bem neste local. Para isto temos que dar as melhores condições para estas pessoas trabalharem, tendo um diálogo muito bom com eles, investindo nas cozinhas das escolas, nos equipamentos que são utilizados, nas EPIs. Devemos lançar em breve um programa de prevenção de acidentes nas escolas, que envolve treinar evacuação, combate a incêndio, assim como primeiros socorros. Isto também é preparar os servidores. O profissional não tem apenas a questão salarial, envolve a condições de trabalho. Uma escola reformada e moderna ajuda não apenas o estudante, mas também quem trabalha lá, por isso estes investimentos em reformas e adequações vão continuar, para criarmos este ambiente saudável.
A Rede Estadual de Mato Grosso do Sul tem hoje o melhor salário de professor do Brasil. Como conseguiu chegar neste patamar e qual a estratégia para manter este nível?
Hoje temos o melhor salário do professor efetivo do Brasil, em torno de R$ 10,3 mil (40 horas) em início de carreira. Confesso que está bem distante do segundo colocado. Isto foi fruto de muito planejamento, não se chega onde chegou sem um planejamento elevado e nosso desafio é manter Mato Grosso do Sul em destaque neste quesito. Da mesma maneira vamos trabalhar bastante para que nosso professor convocado tenha um salário equiparado com o do efetivo. Esta é uma promessa do nosso governador e já estamos buscando os cálculos, montando toda a projeção para fazer esta equiparação, que é muito importante que o professor contratado tenha este salário tão bom como o efetivo. Hoje nossa rede é muito atrativa, tanto que 70% dos nossos professores aprovados do último são de outros estados, que até passaram em outros locais, mas preferem vir para cá.
Para terminar a entrevista, qual foi a sensação do senhor quando recebeu o convite para assumir o comando da Educação? Como recebeu esta missão?
Quando o governador nos convidou para este cargo, fiquei muito orgulhoso e feliz, pois é sempre é muito bom fazer parte deste perfil de Governo, de valorizar o técnico, trazer pessoas que de fato tem o perfil e conhecimento no setor. Como professor também fico orgulhoso de estar representando milhares de professores de sala de aula. Acho que é um motivo de orgulho para todos aqueles que estão em sala de aula. O professor é exigente e sempre cobra para que quem esteja a frente da pasta seja professor de carreira. Também estou muito desafiado, porque gera uma expectativa ainda maior, mas estamos tranquilos e preparados para esta missão.
Leonardo Rocha. Comunicação do Governo de Mato Grosso do Sul
Fotos: Álvaro Rezende