Soja convencional deve ocupar 3,3% da área total destinada ao cultivo da oleaginosa em MT
Grão não-transgênico se torna cada vez mais um seleto nicho, segundo o Instituto Soja Livre, que aponta perspectiva de boa rentabilidade para quem investe neste mercado
Está chegando a hora do sinal verde para o cultivo da soja em Mato Grosso. Nesta nova safra, as lavouras devem ocupar mais de 10,84 milhões de hectares no estado. A expectativa é de que 3,3% desta área sejam semeados com grãos não-transgênicos. Percentual inferior ao registrado no último ciclo, que foi de 4,7% no estado. A projeção é do Instituto Soja Livre que aponta que, há uma década, as lavouras de soja convencional representavam 30% do total em Mato Grosso.
Presidente do Instituto Soja Livre, César Borges diz que os números mostram que “cada vez mais quem investe em soja convencional aposta em um nicho de mercado”. Ele diz que a entidade “está trabalhando firme para aumentar o plantio e a produção da soja não-transgênica, tendo em vista que houve um certo desequilíbrio que fez até os prêmios aumentarem muito”. Em escala nacional, estima que “a soja convencional deve ocupar 2% da área total no Brasil” e reforça que a ideia do ISL é tentar fortalecer a produção em Mato Grosso, Goiás e Paraná. “Entendemos que o importante é que seja produzido em várias localidades, porque um aspecto climático pode atrapalhar bastante quando atingir uma região só”, comenta.
Sobre os motivos que dificultam a expansão das lavouras de soja convencional no Brasil, Borges explica que “além da facilidade de manejo proporcionada pelos grãos transgênicos, outro motivo é a incerteza quanto ao tamanho da demanda dos compradores, bem como dos valores pagos pelo grão”. Na avaliação dele, uma das maneiras de diminuir esta “insegurança” seria a adoção de contratos de longo prazo, o que proporcionaria previsibilidade tanto para o agricultor, quanto para toda a cadeia produtiva.
Hoje, o principal destino do grão convencional produzido no Brasil é a Europa, mas a ideia é conquistar espaço também na Ásia. “Nós estamos abrindo conversas também com a China, para criar uma espécie de um colchão, porque a gente não pode depender só do mercado Europeu. Os chineses também são consumidores, especialmente para alimentação humana, e eles produzem também na própria China. Então, num ano em que a produção não é tão boa, eles poderão ser importadores do Brasil”, comenta.
O desafio é “convencer’ os chineses a aceitarem a o grão brasileiro com as mesmas condições adotadas na Europa, que permite cargas com tolerância de até 1% de ‘contaminação’ (presença de grãos transgênicos). A China adota a chamada “tolerância zero”. “Estamos em conversas, inclusive com o Ministério da Agricultura, para criar um padrão-chinês já que até então eles não aceitam o padrão que é praticado pela própria Europa. A gente quer tentar ter mais um consumidor desse padrão para que a gente não fique em dependência de um só e que isso também sirva como um alerta para o Europeu, de que ele não estará sozinho neste mercado”, avalia.
Prêmios e comercialização
Uma das vantagens para quem aposta no cultivo de soja convencional é a bonificação paga pelo produto. Segundo o Instituto Soja Livre, o valor médio do prêmio atualmente gira em torno de US$ 6,00 por saca, o que pode oscilar conforme o volume negociado e a época da venda. Com a redução da área convencional e, consequentemente, da oferta, muitos agricultores sinalizam a expectativa de que esta remuneração possa ficar ainda mais atrativa. É o que apontam os números referentes à comercialização antecipada da produção, conforme estimativa do ISL. Até agora, cerca de 20% da produção prevista de soja convencional foram vendidos. Volume bem diferente do costumeiro para esta mesma época em anos anteriores, quando algo em torno de 60% a 70% já estavam negociados.