Semana do Artesão 2022 homenageia três mestres de trajetória reconhecida no Estado
A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) realiza a 14ª edição da Semana do Artesão, de 18 a 26 de março de 2022, no Shopping Campo Grande, escolas municipais e Sebrae/MS. A programação inclui feira de artesanato, oficinas e palestras, tudo gratuito. Na edição deste ano serão homenageadas as artesãs Indiana Marques, Araquém Leão e Edson Alves da Cruz. As Entidades Classistas do Artesanato de MS escolheram estas artesãs pela importância e a trajetória delas no artesanato do Estado.
Indiana Marques nasceu em Ponta Porã na fazendo de erva-mate de seu pai, vindo residir em Campo Grande ainda jovem. Trabalha com artesanato há muitos anos encontrando sua vocação na cerâmica, na verdade um reencontro das brincadeiras de infância com o barro da beira do rio.
Arte Popular é um quando se imbui ao artesanato um valor cultural que representa a região em que é produzida ou seu povo, e por esse trabalho com a “bugras”, conquistou um mercado crescente em vários estados brasileiros e outros países como Itália e Portugal.
Além do olhar diferenciado sobre a vida e o cenário em que viviam na natureza, as árvores, as flores e os animais, vêm de sua mãe também o sentimento que desenvolveu pela cultura indígena, a amizade e a convivência com as tribos que viviam dentro da fazenda. Na infância, ela conheceu essas pessoas que a acompanhariam por toda a vida, as índias trabalhando, as crianças risonhas, as pinturas, os costumes.
“O artesanato no início era uma coisa lúdica e com o passar do tempo passou a fazer parte da minha rotina de forma que eu ganhasse dinheiro. Mas isso só foi depois quando eu fui viajando pelo Brasil e entendendo o artesanato como uma forma de representar um local, uma região, um povo, e essa mesma obra fazer parte de um trade de ação turística. Com o passar dos anos eu fui ficando conhecida, fui ganhando prêmios nacionais e internacionais, e sou reconhecida como artista popular brasileira. Ser homenageada é consequência do trabalho, é consequência da luta, do reconhecimento nacional. Quando alguém pensa Mato Grosso do Sul hoje, pensa no meu trabalho”, diz Indiana.
Nascido em Campo Grande e falecido no ano passado, fala grossa, sereno, criativo, assim era seu Araquém, um querido. Vivia do oficio que tanto amava, o artesanato. Fazia facas, criava espetos de churrasco e chairas com materiais que antes não tinha utilidade: ossos bovinos e de avestruzes. “É um trabalho que faço me divertindo, é interessante que encaro como um trabalho, uma profissão, para mim é uma grande terapia fazer esse tipo de artesanato, é um grande prazer, um sonho”, afirmou no livro Vozes do Artesanato.
Seu filho Fabio da Silva Leão conta que seu Araquem gostava muito do ofício: “quem faz artesanato tem que gostar e ter o dom. Meu pai fazia as peças conforme os pedidos, ele morava em Campo Grande e eu o trouxe para morar comigo em Rio Verde nos últimos dois anos, por conta do estado de saúde dele. Trabalhou até os últimos dias de vida. Tenho boas lembranças, ele gostava do que fazia. Pai era uma pessoa bem simples, descontraída, humilde até em excesso, educado com as pessoas. Fiquei super feliz com a homenagem feita a ele pela Semana do Artesão. A gente tem um misto de sentimentos, para nós ainda é difícil falar sobre o assunto. É uma recordação difícil, me emociono ao falar do meu pai”.
Edson Alves da Cruz nascido em 15/05/1948, na fazenda Cordilheira em Corumbá MS. Pai de dez filhos, começou sua carreira profissional trabalhando na lida do campo, fazendo frete, curral, cercas, tirando lenha e em comitivas de gados pelo Pantanal afora. O seu trabalho lhe permitia observar os animais nos seus mínimos detalhes.
Em suas horas de folga, Edson confeccionava gamelas para quando viesse para a cidade pudesse vendê-las, conseguindo fazer uma renda extra. Numa dessas gamelas, resolveu, sem nenhuma pretensão, esculpir um animal do Pantanal, no caso um Tuiuiú. Fez tanto sucesso que fez outras, mas ainda não vivia de sua arte. Quando viu a possibilidade de mudar para a cidade, montou sua marcenaria, onde fazia móveis entalhados, molduras e outros móveis também.
Um certo dia resolveu fazer suvenir de tuiuiú e foi sucesso garantido. Do tuiuiú para araras, tucanos, papagaios e outros pássaros também. Resolveu então fazer a capivara, maior roedor do mundo, que com sua beleza conquista admiradores do mundo inteiro. Sua convivência com os bichos o fez ser conhecedor da anatomia dos bichos, de seus movimentos. Não é uma questão só de confecção das peças, mas sim dar-lhes características bem parecidas com os originais.
Mais informações sobre a SEMANA DO ARTESÃO na Gerência de Desenvolvimento de Atividades Artesanais pelo telefone (67) 3316.9107.
Karina Lima, FCMS
Fotos: Divulgação