No 2 a 2 de Fluminense e Internacional, a coragem garantiu o espetáculo
Sempre que confrontado com alguns dilemas para escalar o time, Fernando Diniz opta pela alternativa mais ousada. No Maracanã, foi ao limite juntando Marcelo, Ganso, Arias, Keno, Cano e Kennedy numa semifinal de Libertadores. Do outro lado, o Internacional de Eduardo Coudet tampouco foi a campo para fazer o tempo passar à espera da volta no Beira-Rio. O resultado foi um jogo atraente, de tantas alternativas que se torna difícil identificar as sensações que tricolores e colorados levam do 2 a 2.
Porque antes do jogo, provavelmente, seria muito mais provável que os gaúchos se satisfizessem mais com um empate do que os cariocas. Mais ainda após o Fluminense marcar primeiro, com Cano. No entanto, após um primeiro tempo de chances dos dois lados, a expulsão de Samuel Xavier modifica o cenário. O Inter empata antes do intervalo e, na volta do descanso, protagoniza 20 minutos de grande domínio, quando constrói uma virada que parece definitiva. É quando as sensações, outra vez, se invertem. Há motivos para o tricolor celebrar o 2 a 2, conseguido em mais um grande gol de Cano. Enquanto os colorados lamentam não terem administrado bem a vantagem. Se a decisão ficou para a segunda partida, a marca do jogo de ida foi a coragem com que os dois times encararam o primeiro confronto.
O ótimo jogo não significa que tenha havido apenas virtudes. O Fluminense pressionava bem a saída de bola colorada, mas quando não conseguia um desarme no campo ofensivo, parecia desequilibrado defensivamente com uma formação bastante leve: fosse na proteção à frente da defesa, com Ganso ao lado de André, fosse no lado esquerdo, onde as dificuldades de Marcelo sem bola outra vez apareceram, em especial no segundo gol.
Sem tanta pressão no meio-campo, havia tempo para que os meias do Internacional acionassem Enner Valencia, bem mais veloz do que a linha defensiva do Fluminense. O equatoriano foi um perigo constante. Por outro lado, o time de Coudet tinha problemas para defender um rival com muitas variações ofensivas. Por vezes, a equipe de Diniz fazia a saída de bola com André junto aos zagueiros. Em outros momentos, via Ganso e o volante realizarem o primeiro passe dentro da área de Fábio, enquanto os zagueiros avançavam pelo lado do campo.
O tricolor teve ótimos momentos movendo a bola, trocando passes, evoluindo no campo. No entanto, ao perder um homem, ficou mais evidente que o técnico precisaria reordenar sua defesa. Ele optou por esperar o intervalo para fazê-lo e, mais tarde, numa coletiva um tanto impaciente, desqualificou uma ótima pergunta sobre o tema. Quando respondeu, explicou que preferia mexer no intervalo a colocar um homem frio a poucos minutos do fim da primeira etapa. Fazia sentido, o que prova o quanto era boa a pergunta que irritou Diniz. Era natural a curiosidade, ainda mais que, num destes caprichos do futebol, o gol de Hugo Mallo saiu entre a expulsão e o intervalo.
No vestiário, Diniz tirou Ganso para que Alexsander fizesse dupla com André, dono de grande atuação. E recompôs a lateral direita com a entrada de Guga. O sacrificado foi Kennedy. Em teoria, abrir mão de um atacante veloz, capaz de atacar a profundidade, poderia significar mais conforto para que o Internacional avançasse no campo. E, de fato, os gaúchos controlaram as ações no início da segunda etapa. Mas Diniz preferiu manter Arias e Keno pelos lados, além de não abrir mão de Cano. Mais adiante, a grande finalização do argentino para o 2 a 2 provaria o quanto é difícil tirá-lo. Ainda mais em jogos desta natureza.
O Fluminense tentava atacar, não abria mão de jogar. Mas o cenário era difícil. Até Coudet fazer modificações que não funcionaram. Sem Maurício e Alan Patrick, o Inter perdeu pausa, controle. E não administrou bem o resultado. Sofreu o empate na bola parada que é um dos traços deste Fluminense de Diniz, um gol provavelmente difícil de digerir após ter se colocado em situação que parecia confortável.
Se Diniz e Coudet repetirem a disposição ao jogo, à ousadia, o Beira-Rio verá mais 90 minutos admiráveis. É provável que aconteça, afinal é da natureza destes dois treinadores.