Goleada indica caminhos ao Inter e um mundo mais real ao Flamengo
Antes de acontecerem no campo, jogos de futebol são disputados algumas vezes na mente de seus treinadores. Em geral, cada um planeja a partida que gostaria de ver, o roteiro mais confortável para seu time. E tentam fazer com que os 90 minutos correspondam a suas intenções. No Maracanã, Renato e Aguirre queriam jogos totalmente distintos. O resultado elástico indica que tudo correu muito mais à maneira do uruguaio. Mas a vitória do Internacional, embora incontestável, também tem uma marca absolutamente comum no futebol: por vezes, pequenas circunstâncias encaminham o jogo para o que um dos lados quer. E após se ver em vantagem, especialmente no segundo tempo, o colorado se viu absolutamente confortável e foi extremamente eficiente.
Nem é possível dizer que o jogo de Renato não acontecia no início do primeiro tempo. O Flamengo tinha a posse, ocupava o campo ofensivo e até criava oportunidades. Aliás, ao longo do jogo, o colorado Daniel foi obrigado a sete defesas, quatro delas em chutes de dentro da área e duas em excelentes oportunidades. Da mesma forma que não é pecado dizer que o 5 a 1 aplicado pelo Flamengo no São Paulo não refletia o jogo, também é correto entender que o 4 a 0 de ontem é um placar maior do que o desequilíbrio do duelo do Maracanã.
Eram 19 minutos quando o Internacional fez um de seus 28 desarmes no jogo e organizou um de seus primeiros ataques importantes. Achou espaços entre as linhas de marcação do Flamengo e induziu Léo Pereira a abandonar de forma equivocada a linha defensiva. O erro do defensor facilitou a combinação entre Edenílson e Yuri Alberto, que originou o primeiro dos três gols do atacante. Ali, as circunstâncias mudaram.
Em desvantagem, apareceu um Flamengo pior do que nos outros jogos com Renato. Afobado ao mover a bola, sofrendo perdas e expondo demais uma linha defensiva lenta. Ou seja, permitia ao Inter exatamente o tipo de jogo que se imaginava ser a ambição colorada. Um novo desarme resultou em inversão de bola de Saravia, encontrando Isla contra dois adversários. Yuri Alberto marcaria outra vez.
O segundo tempo ainda teve chances rubro-negras, ao menos uma defesa notável de Daniel. Mas também teve um Internacional muito eficiente ao defender, que não permitia os movimentos do Flamengo pelo centro do ataque, que se tornaram habituais nos últimos jogos. E, por sua vez, o rubro-negro seguia cometendo mais erros do que o permitido em jogos desse nível. Por exemplo, ao fazer um escanteio a seu favor virar um contragolpe fatal: Diego, Isla e Filipe Luís eram os homens mais recuados na proteção da defesa, nenhum deles apto a combater Taison na velocidade. O jogo estava sentenciado, mais ainda após a tola expulsão de Gabigol, embora Yuri Alberto ainda fosse acrescentar seu terceiro gol à contagem.
A ponderação que vale para o Internacional, vale para o Flamengo de Renato Gaúcho. Resultados como este nos lembram que não existe poder mágico em troca de treinador. Por mais encantadoras que fossem as atuações recentes, o trabalho é muito curto, e se valeu de intervenções pontuais do novo técnico, mas também da memória de um time cuja base se mantém há algum tempo. No Maracanã, o time perdeu a fluência ofensiva e se expôs demais ao buscar o resultado. É irreal, quase cruel usar as goleadas como parâmetro. Assim como há poucos motivos para achar que o resultado deste domingo será rotina.