Agências de turismo no Brasil oferecem pacotes de viagem nos EUA para quem quer se vacinar
Rotas de alto padrão podem chegar em alguns casos perto dos R$ 50 mil. México é o principal ponto de parada para o tempo de quarentena exigido antes de entrar em território norte-americano.
Antes mesmo que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, comunicasse que o governo estadual autorizou a vacinação contra a Covid-19 de turistas na terça-feira (11), a família de Samanta já havia desembarcado nos Estados Unidos. A brasileira, que não quis ter o sobrenome identificado, viajou com o marido e com a filha, de 12 anos, com a expectativa de serem imunizados.
“Uma amiga minha, que tinha perdido a sogra para a Covid, estava na minha casa me contando o momento difícil que a família estava passando quando recebeu um telefonema avisando que outro colega havia morrido. Ali, para mim, foi o momento decisivo”, conta Samanta.
Em menos de 48 horas, a família embarcava no Aeroporto Internacional de Florianópolis Hercílio Luz rumo ao México, parada obrigatória para a realização de quarentena de 15 dias.
Pessoas vindas do Brasil e de mais seis países, além de alguns países europeus, devem cumprir quarentena de 14 dias em outros territórios sem restrições antes de entrar nos Estados Unidos. Ainda assim, é necessário apresentar um teste de antígeno na alfândega.
A vacinação contra a Covid-19 no Brasil anda a passos lentos. O ritmo de vacinação contra a Covid-19 caiu pela metade no Brasil nos primeiros 14 dias do mês de maio. Quem tem recursos está cogitando o “turismo da vacina”.
A agência catarinense Menton, que organizou a viagem de Samanta, oferece um pacote de luxo para duas pessoas: passagens aéreas no setor executivo e hospedagem de alto padrão por US$ 17.600 (cerca de R$ 93 mil).
Vírginia Peluffo, sócia da agência, afirmou que os serviços são realizados sob demanda e que não incentiva o chamado “turismo de vacina”. “Não incentivamos esse tipo de turismo porque não há garantias de que a pessoa vá ser imunizada: as regras podem mudar a qualquer momento.”
O aumento do número de brasileiros que viajam aos EUA para serem imunizados foi tanto que a Be Happy, agência de viagens de luxo com sede em Moema, bairro de classe alta em São Paulo, criou destinos personalizados aos seus clientes.
Com pacotes a partir de R$ 50 mil é possível ter os EUA como destino final, mas não antes de passar um período de 15 dias nas Ilhas Maldivas, Dubai, México, Costa Rica ou República Dominicana.
“Tem passageiro que, ao invés de ficar 15 dias em um lugar só, prefere viajar a dois pontos diferentes na costa do México, aproveita para passear. Outros, pedem apartamento até com cozinha porque não querem sair do hotel nem para comer”, comenta Jacque Dallal, fundadora da Be Happy.
“A quarentena, no México, não é restrita ao hotel, onde a pessoa não pode fazer nada. O turismo lá me impressionou muito porque tem muita gente viajando”, comenta Márcia Rosa, proprietária de uma franquia da agência de viagens Flytour.
Rosa viajou aos Estados Unidos com o marido para visitar o filho e os netos, que moram no Vale do Hudson, região metropolitana de Nova York. No dia seguinte à sua chegada na cidade, foi vacinada em uma farmácia com o imunizante produzido pela Moderna.
Inspirada em sua experiência, criou um pacote de viagem ao custo de R$ 18.782. No pacote, estão incluídas passagens aéreas de ida e volta, hospedagem e transfer da cidade até o local de vacinação.
Rosa também auxilia os clientes no momento do agendamento da vacinação. Todo o processo é feito on-line e, já no cadastro, a pessoa informa qual a sua vacina de preferência. Atualmente, o país dispõe de três imunizantes: Moderna, Pfizer e Janssen.
O período de quarentena no México inclui cinco noites em Valladolid, cinco noites em Tulum e cinco noites em Cancun. Depois, mais 5 dias nos EUA.
“Com menos de uma semana, eu já tinha 13 famílias confirmadas”, afirma Rosa. Segundo ela, a maioria dos compradores são casais acima dos 60 anos que já se vacinaram e desejam viajar aos EUA com o objetivo de vacinar os filhos.
“Teve também um caso de uma pessoa que já se vacinou com a CoronaVac, mas teme que a vacina não seja aceita em alguns países e isso impeça a sua entrada. Por isso, após falar com um médico, vai à NY para se vacinar novamente”, revela Rosa.