Exposição: artistas lembram Lídia Baís e cobram fim dos feminicídios em MS

Com tema “Sagrado e Profano” exposição foi aberta em 22 de abril data em que Lídia celebrava aniversário

As artistas visuais Márcia Albuquerque, Venise Melo, Marilena Grolli, Karla Mattos, Ana Rita Moraes, Joy Gomes, Kim Matos, Érika Pedraza e Ana Sandim se uniram em uma exposição de obras na noite de 22 de abril na Galeria de Vidro, localizada na Plataforma Cultural, em Campo Grande.

Idealizada pela artista Márcia Albuquerque, por meio de seu Ateliê e viabilizado pela Lei Aldir Blanc – Edital de Espaços Culturais, a exposição homenageia a artista Lídia Baís, que celebrava seu aniversário em 22 de abril. O tema da exposição é “Sagrado e Profano”.

Lídia Baís nasceu em Campo Grande em 1900 e morreu em 1985. Fez carreira como pintora e desenhista.

A artista iniciou os estudos em pintura com Henrique Bernardelli em 1926. Em 1927 morou na Europa, permanecendo mais tempo em Berlim e Paris, onde tem contato com Ismael Nery.

Ela voltou ao Brasil, em 1928, retomando seus estudos sob orientação de Henrique Bernardelli. Em 1950, fundou o Museu Baís em Campo Grande, que não chegou a abrir ao público. Ela ingressou na Ordem Terceira de São Francisco de Assis, adotando o nome de Irmã Trindade. Daí em diante dedicou-se exclusivamente aos estudos religiosos e filosóficos. Em 1960, narra a história, que Lídia publicou, sob o nome fictício de Maria Tereza Trindade, o livro História de T. Lídia Baís.

Segundo Márcia, a ideia da exposição surgiu da necessidade de homenagear Lídia Baís, que é uma referência artística feminina de Mato Grosso do Sul, e que, segundo ela, nem sempre é lembrada. “Escolhi a Lídia por representar as mulheres artistas de Mato Grosso do Sul, porque não foi apenas uma mulher que pintava telas para agradar a família e a sociedade. Muito pelo contrário, Lídia revelou em suas obras, auto-retratos de enfrentamento, transgressão e rebeldia, referentes às violências e à condição de ser mulher numa sociedade patriarcal e opressora”, introduziu.

Conforme a artista, as mulheres artistas participantes da exposição, transitam com suas poéticas, entre passado, presente e futuro. “Revelam através da arte, a ancestralidade de Lídia, que representa na contemporaneidade, cada uma delas, com suas lutas, alegrias, vivências, enfrentamentos. O universo feminino, na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, no Brasil. Somos todas Lídia!”, explicou.

As artistas usam a exposição em homenagem à Lídia para fazer refletir sobre as condições em que as mulheres vivem em MS. Um dos estados com mais altos índices feminicídio e de violência contra a mulher, atualmente com a pandemia os percentuais aumentaram com o isolamento e permanência das famílias dentro de casa. “Lídia Baís representa também esse enfrentamento. Somos mulheres artistas que a produção artística vai além da arte do belo. A arte também pode ter uma função de repensar a realidade e ajudar a sociedade a se tornar mais justa, mais justa e humana”, reforçou.

Lembrando as características da homenageada, Márcia faz referências a próprias ideias de situações que teriam sido vividas por Jesus de Nazaré, narradas no livro religioso “Bíblia”, que é eternizada em tela de Lídia Baís. “Era uma artista que se posicionava de forma bem peculiar diante das pressões sociais e opressões que sofria. O que dizer da sua obra em que se coloca ao lado de Jesus na Santa Ceia? Uma mulher buscando espaço no meio dos homens e questionando a religião. E quando foi obrigada a casar, permaneceu virgem e se separou 5 dias após o casamento? Lídia, multiartista, desenhava, pintava, compunha músicas e poemas, tocava… uma mulher com muitas habilidades, com suas alegrias, dores, tormentos. Semelhante a tantas mulheres, artistas ou não. Semelhante às mulheres da contemporaneidade”, completou.

Para Márcia é necessário repensar o papel da mulher na sociedade. “É urgente pensarmos em estratégias para a diminuição do feminicídio e da violência contra a mulher em MS.  Um olhar além da arte, um olhar da valorização feminina.  É esse o recado que cada artista desta exposição quer transmitir, além do significado particular de cada obra”, finalizou.

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