Bom desempenho do agro em MS ajuda a entender PIB positivo do setor no país, apontam especialistas

Segundo dados divulgados nesta terça pelo IBGE, somente a agropecuária a exportação tiveram resultado positivo no PIB do segundo trimestre no país.

Mato Grosso do Sul é um dos polos do agronegócio no Brasil. Está entre os maiores produtores do país em soja, milho, cana-de-açúcar e carne bovina, entre outros. O desempenho do estado no setor acaba sendo um reflexo do que ocorre no contexto nacional e seus bons resultados ajudam, segundo especialistas, a entender o fato do setor ser junto com as exportações, os únicos a registrarem crescimento do Produtor Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2020 (0,4%).

O economista Aldo Barrigosse comenta que um conjunto de fatores explica os bons números do agro em Mato Grosso do Sul. Aponta que o estado tem um custo operacional baixo e grande produtividade para commodities como soja, milho, cana e carnes. Somado a essa aptidão natural ele destaca que os produtores sul-mato-grossenses “surfaram” em uma onda favorável em meio a pandemia da Covid-19.

Barrigosse diz que em razão da pandemia, que provocou restrição de operação em vários atividades, ou de intemperes climáticas, houve redução de oferta de vários produtos no mercado internacional, como as carnes e o açúcar. Diz que o Brasil também foi afetado, mas em escala menor, principalmente no agro – que não parou suas atividades, o que permitiu que o país aproveitasse essa janela de oportunidades para ampliar suas exportações em um mercado aquecido e com grande demanda

Essa procura, provocou uma elevação dos preços, criando um círculo virtuoso, que inclui ainda grande produção, empregabilidade e exportações em patamares elevados.

A exportação de soja, por exemplo, cresceu no primeiro semestre de 2020, 58,42% em volume e 51,47% em receita em Mato Grosso do Sul frente o mesmo período de 2019. Nestes seis meses o estado embarcou 3,915 milhões de toneladas, que resultaram em uma receita de US$ 1,316 bilhão.

O incremento na exportação de açúcar foi ainda maior, 207% em quantidade e 176,4% em faturamento na mesma comparação. A quantidade de alimento exportado saltou de 100,6 mil toneladas para 309,2 mil toneladas e o resultado financeiro passou de US$ 28,617 milhões para US$ 79,102 milhões.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), André Dobashi, aponta que grande parte desse aumento no PIB é resultado das elevadas exportações e de um dólar elevado e um real desvalorizado, o que atraiu investimentos em plena pandemia.

“A safra de milho 2020 no MS teve uma produção 30% menor do que em 2019, enquanto a soja teve 28% a mais produzido na safra 2019/2020. A comercialização do milho está aquecida, porém na curva de mercado não há um equilíbrio entre oferta e demanda. A demanda tem sido muito maior, principalmente dos produtos brasileiros por guerras comerciais estrangeiras pelas sanções americanas principalmente”, comentou.

Para ele, esses fatos contribuíram para que a economia do país e do estado se destacassem e tivessem um PIB positivo, porém muito aquém do que poderia ser em um momento sem pandemia.

Dobashi lembrou ainda que o agro corresponde ao que chamou de “primeiro setor”, a base do sistema de bens e serviços finais apurados pelo PIB.

“Uma das formas de se calcular o PIB é utilizar como parâmetro o valor bruto de produção (VBP). Essa última variável vem apresentando crescimento e elevada participação da soja e do milho, quando se trata o valor bruto de produção do MS. O VBP de soja e milho do MS somados equivale a 74% do VBP total agrícola. Essa elevada participação permitiu que o agro continuasse ativo e permanecesse o chavão: o agro não para”.O presidente da Aprosoja/MS comentou que antes da colheita, quase não havia movimento de terceirizados no campo (início da pandemia), e quando esse movimento foi necessário durante a colheita que ainda está ocorrendo, todo o mercado já está mais adaptado ao novo normal.

“A necessidade do abastecimento externo de países como a China ajudou o estado e o país a passar por esse momento de pandemia, porque o agronegócio precisou continuar e com esse mercado aquecido houve inclusive novas contratações no campo”, analisou.

Segundo o novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério da Economia, a agropecuária foi o segundo setor em desempenho no saldo de empregos em Mato Grosso do Sul em 2020. Entre janeiro e julho o setor fez 9.141 contratações e 7.828 desligamentos de trabalhadores com carteira assinada, tendo um saldo positivo acumulado de 1.313 vagas.

Para o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Algodão (Ampasul), Walter Schlatter, o fato do agro não paralisar suas atividades durante a pandemia foi fundamental para que o setor conseguisse superar as adversidades.

“Isso fez com que a economia nas regiões agrícolas continuasse girando normalmente, visto que a mão de obra no campo foi mantida, os insumos agrícolas continuaram sendo adquiridos e utilizados, e os produtos agrícolas comercializados, ou seja, a compra e venda no ramo do agro continuou movimentando os recursos financeiros que sustentaram de forma positiva o setor durante a pandemia”.

Ao analisar especificamente a situação da atividade, Schlatter diz que a produção de algodão no estado no ciclo 2019/2020 sofreu uma pequena redução de 2% em relação a anterior, devido a fatores climáticos, mas que os produtores entraram na colheita com 80% da safra vendida antecipadamente com valores que remuneram o produtor.

“A grande apreensão do setor foram os baixos preços da pluma em meados de abril a junho/20, gerando desestímulo ao setor. No entanto a partir de meados de julho o mercado internacional da pluma começou reagir, devido ao retorno no consumo principalmente dos países asiáticos, refletindo positivamente nos preços da pluma no mercado brasileiro. Esse fato trouxe um novo ânimo ao setor, fazendo com que a expectativa de baixa na intenção de plantio para a próxima safra 2020/2021 fosse reduzida”, analisou.

Apesar da projeção de redução para o próximo ciclo, o presidente da Ampasul destaca uma perspectiva otimista a médio prazo. “Com a rápida recuperação no consumo de têxteis e a valorização nas cotações da pluma, acreditamos que para a safra 2021/2022 o setor deverá recuperar totalmente a área perdida para grãos e iniciará um novo processo de crescimento”.

O gerente técnico do Sistema Famasul, José de Paduá, por sua vez, destacou o incremento na produção de grãos e de proteínas como elementos chaves nesse desempenho no PIB.

Gerente técnico do Sistema Famasul, José de Paduá — Foto: Famasul/Divulgação
Gerente técnico do Sistema Famasul, José de Paduá — Foto: Famasul/Divulgação

 

“Temos que analisar que o Brasil está passando por um momento de restrição econômica e, que isso impacta no consumo e na geração de riqueza e, por fim, no PIB. O agro é uma atividade prioritária. Ela não para. Nós tivemos esse ano uma colheita muito boa na safra de soja, uma safra recorde e também tivemos um grande incremento no valor da soja. Essa combinação, que também ocorreu com as proteínas, resultou neste incremento no PIB”.

No ciclo 2019/2020, o estado colheu a maior safra de soja de sua história, 11,3 milhões de toneladas da oleaginosa. O grão registra neste ano uma grande valorização de preços. Segundo dados da Famasul, no período de um ano, 80,53%. Em 30 de agosto de 2019 a saca de 60 quilos era comercializada na praça de São Gabriel do Oeste ao preço médio de R$ 74,50 e no dia 31 de agosto de 2020, no mesmo local, a mesma quantidade foi vendida ao preço médio de R$ 134,50.

O milho, também conforme a entidade, acumula uma variação de preços um pouco maior, 88,67%, na mesma comparação. A saca de 60 quilos entre um ano e outro saltou de R$ 26,50 para R$ 50.

A arroba do boi também registrou uma valorização expressiva esse ano em Mato Grosso do Sul. Em 29 de agosto de 2019 o valor médio de comercialização era de R$ 143,57 e no dia 31 de agosto de 2020 atingiu R$ 221,95, um aumento de 54,59%.

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